#CADÊ MEU CHINELO?

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

[do além] TOCA RAUL!

:: txt :: Raul Seixas ::

Logo nos primeiros minutos do documentário Raul, o Início, o Fim e o Meio, meu irmão Plínio conta que, durante a adolescência, eu sofria de insônia e, quando o acordava, ele recomendava que eu me masturbasse para que o sono chegasse novamente. Foram as primeiras vezes que se ouviu no Brasil o famoso grito: Toca, Raul! Mas tal brado é bem mais antigo. Como nasci há 10mil anos atrás – e só há o Google que saiba mais –, posso afirmar que o grito Toca, Raul! surgiu antes mesmo de minha obra musical. Na Grécia antiga, Homero certa vez recitava a Ilíada quando foi interrompido por um maluco beleza a berrar para que uma de minhas canções fosse executada.

Jesus enfrentou problema semelhante. Durante o famoso Sermão da Montanha, mal começou a proferir Bem-aventurados os humildes de espírito, porque... ouviu a voz de um infiel a gritar: Toca, Raul! Sabe aquela pausa de Martin Luther King depois de I Have a Dream? Pois é, não teve intenção dramática. Foi provocada por alguém da plateia que gritava você sabe o quê. Tenho dois sentimentos em relação ao grito. Há um lado meu que gosta de emblemar essa tradição da inconveniência. Gritar Toca, Raul! durante um concerto de Chopin, por exemplo, é se materializar como a mosca que pousou em sua sopa. Em muitas ocasiões, funciona como um chamado de alerta, uma convocação ao despertar, um rasgo de rebeldia, um pouco de rock-n’-roll. Em outras, serve como trilha sonora pros tempos atuais: toda vez que Obama aparece ameaçando um ataque à Síria, fico esperando alguém gritar Toca, Raul! pra eu começar a tocar Senhor da Guerra; quando surge notícia sobre Assad, penso em cantar Cowboy Fora da Lei pra ele. Entretanto, nada tira da minha cabeça que o problema dos dois é nunca ter ouvido Rock das Aranhas.

Mas agora vou desdizer o oposto do que disse antes. O que me dá um certo bode é que Toca, Raul! virou também uma espécie de piada do tipo é pavê ou pra comer. O sujeito não economiza no bordão. E o dispara em qualquer ocasião. Show no barzinho, roda de samba, balada sertaneja, desfile militar. Seu uso excessivo, além de desgastar o sentido original, se é que teve, cria certa animosidade com minha obra. Gente que nunca ouviu Ouro de Tolo e Krig-ha, Bandolo! já nem quer conhecer minhas músicas por conta dessa turma do pavê. Repetem tanto esse mantra por aí que os Detonautas vão fazer um tributo a mim no Rock in Rio. Você sabe, tributo só é bom pra quem arrecada. Ao menos uma coisa me consola: depois disso, acho muito improvável que se escute Toca, Raul! outra vez.

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