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sábado, 17 de agosto de 2013

[overmundo] BAIANO E OS NOVOS CAETANOS


:: txt :: Penha de Castro ::

 Os anos de chumbo da ditadura militar e a explosão do Tropicalismo. A arte silenciada, amordaçada pela censura e a arte, extravagante, irreverente, escandalosa e constrangedoramente nacionalista dos tropicalistas em meio a farsa do milagre econômico que maquiava a miséria dominante nas terras tupiniquins, criaram a atmosfera perfeita para o surgimento da dupla virtual (embora pouco usual, a palavra virtual já existia antes da internet) Baiano & Novos Caetanos, composta por Baiano e Paulinho Boca de Profeta, personagens interpretados respectivamente por Chico Anísio e Arnauld Rodrigues, criados para um quadro do humorístico da Globo “Chico City”. O cantor Caetano Veloso e os Novos Baianos serviram de inspiração para criação dos dois personagens.

 A ideia a principio era fazer uma sátira ao movimento tropicalista, que com seus conceitos, retórica, estética, manifesto, impressões e avalanches pós-modernistas, descarrilava tornando-se o óbvio, a peça fora da engrenagem absorvida pelo sistema, saturava-se por não sobreviver aos seus próprios dogmas. Então voltam-se para si os estereótipos, os quais criticava, dos quais eram também uma relevante parcela.
A dupla embarca no tropicalismo do tropicalismo, autocrítica do movimento vinda de fora, ou de dentro, sei lá, depende do ponto de vista, se existir mais de um. Os trejeitos, o figurino, o palavreado, os cacoetes, os silogismos dos expoentes da tropicália eram um prato cheio para os dois humoristas que engrossavam o caldo com a sátira política metafórica própria para os ares de uma ditadura.

 O álbum de 1974, da dupla, é um disco politizado, engraçado e de uma sonoridade surpreendente, bonita e inovadora. Foi além da piada, virou coisa séria. Com pegada que varia do Samba-rock à música rural, carregado de brasilidade, o som viaja pelas origens de nossa musicalidade, visita nossas veias culturais. É um tropicalismo acidental.
Em “Vô batê pa tu”, com participação do personagem do Chico Anísio “Coalhada”, que meio perdido pergunta: “o que que eu tô fazendo neste disco”, a faixa de abertura, cheia de efeitos sonoros, de uma plateia virtual (de novo), toca na feridas dos dedo-duros, gente do meio artístico e intelectual, que entregavam os colegas que não andavam na linha da ditadura, a “entregação com dedo de veludo”; em “Urubu tá com raiva do Boi” o alvo foi o “milagre econômico brasileiro” que era a vedete do regime militar, sintetizada no discurso Delfiniano: “O povo vai mal, mais o pais vai bem”.
“Cidadão da mata”, canção politicamente correta com mensagem ecológica, encerra-se no discurso ativista: "Amo, amo a mata! Porque nela não há preços. Amo o verde que me envolve... o verde sincero que me diz que a esperança, não é a ultima que morre. Quem morre por último é o herói. E o herói, é o cabra que não teve tempo de correr..."
“Dendalei”, com arranjos de flauta que nos remetem aos bang-bangs italianos, faz critica ao conservadorismo e ao conformismo: “ Do que eu vi, muito gostei, tudo perfeito de mais, dendalei, dendalei. Sou fã desse meu firmamento, sou fã da roda em que entro, sou fã do velho testamento”.

 Sarcásticos, visionários e criativos, assim eram Baiano e Paulinho Boca de Profeta, ou melhor, Baiano e Novos Caetanos.

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