#CADÊ MEU CHINELO?

sexta-feira, 14 de junho de 2013

[do além] JUNKIE BIKER

:: txt :: William Seward Burroughs II ::

A ocasião exigia uma certa liturgia. Servi uma dose de Bourbon, tomei minha benzedrina, e sentei-me para ver a entrevista de Lance Armstrong no programa da Oprah. Aliás, sou dependente desta mulher, não consigo deixar de assisti-la, já tentei até internação numa clínica sem televisão. Ela é minha heroína.

Como você sabe, eu adoro relatos de viciados. E, no século XXI, eles estão cada vez mais raros. Não há mais ambiente para tais confissões. Antes, a patrulha era só com as drogas. Hoje, o sujeito declara que comeu um bolinho de arroz, fritado em gordura trans, e já é hostilizado pelos seus pares. Se ascende um cigarro, então, mesmo que convencional, é um ameaça à sociedade.

A entrevista começou de forma previsível. Lance confessou que usou substâncias proibidas para conquistar sete títulos da Volta da França. Confessou em termos. Depois dos testes de laboratório que apontaram o doping, ele não tinha outra escolha. Digamos que ele confirmou. Mas esta não era esta a parte que me interessava. Eu queria saber mesmo, pela boca dele, o que ele tomava, como comprava, quais eram os procedimentos, que barato sentia.

Logo vi que o programa ia frustrar minhas expectativas. Armstrong estava se esforçando demais para aparecer arrependido e culpado. Quando Oprah perguntou se ele concordava com a declaração contida no relatório da Agência Americana de Antidoping que apontava o seu caso como “o mais profissional, sofisticado, inteligente e bem sucedido sistema de dopagem da história do esporte”, o compungido atleta perdeu a oportunidade de gritar ”Yes, yes, it’s true! Eu teria me levantado para aplaudir.

Ok, teve uma parte boa. O relatório da agência disse também que ele influenciou e difundiu a cultura de droga no time de ciclismo americano. Oprah mais uma vez perguntou se ele confirmava tal acusação. Este Lance é o cara. Por modéstia, negou sua influência.

Confesso que fiquei com uma inveja danada do esquema que ele montou. Já pensou ter uma equipe a sua disposição só para te drogar? Se, em Tanger, sob o efeito do haxixe eu ficava por até seis horas datilografando na velocidade máxima, imagina com a equipe do Dr. Ferrari trocando meu sangue, acrescentando hormônios, EPO, corticoides e tudo mais. Eu teria ganho a Volta da France e escrito o Almoço Nu, sem sair do selim.

Espero que Armstrong tenha aprendido a lição e passe a fazer o uso recreativo de drogas sem mentir. Ele ainda nos deve uma descrição minuciosa de como é pedalar turbinado. Chega de sentimentalismo moralista. Este episódio é uma ótima oportunidade para que ele reescreva seus livros, reconte sua história. Sua escrita de autoajuda pode agora ganhar contornos de literatura beat. Tenho certeza que Kerouac e Ginsberg, assim como eu, teremos orgulho de dividir a prateleira com alguém que está com a cara na sarjeta.

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