#CADÊ MEU CHINELO?

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

[noé ae] ENQUANTO SOMOS JOVENS

 :: txt :: Tiago Jucá ::


Noah Baumbach é um desses diretores de cinema que passei a notar faz pouco tempo. História de um Casamento (2019) já havia me deixado empolgado pela abordagem temática dos conflitos de relação pessoal e um rico e constante diálogo entre seus personagens. Somente ontem assisti ao "antigo" filme Enquanto Somos Jovens (2014) e percebo que a fórmula de narrativa vem de longe. 

O trama se passa ambienta no Brooklin, onde vive o casal de meia-idade Josh (Ben Stiller) e Cornelia (naomi Watts), ambos cineastas. As crises do relacionamento tem um novo tempero quando eles conhecem um casal de jovens, Jamie (Adam Driver, outra repetição que daria certo em Histórias de um Casamento) e Darby (Amanda Seyfried). Novos hábitos entram em cena na rotina dos quarentôes, e entre as novidades a principal é a que vai fazer o desenrolar da fita, literalmente por assim dizer.

Ao melhor estilo de Woody Allen, Noah traz consigo a receita de coloquiais prosas do universo urbano novaiorquino. Tá no Mubi.


domingo, 26 de dezembro de 2021

[noé ae] BRONTEROCS DO MUNDO, UNI-VOS!

 :: txt :: Tiago Jucá ::


Quem diria, a indústria cinematográfica americana resolveu fazer uma sátira sobre o Brasil negacionista de Bolsonaro e abordar tragicomicamente as questões sanitárias da covid19 e os dilemas ambientais. Faz isso através de uma metáfora reduzida a um cometa em rota de colisão com a Terra. um filme estrelado pelos melhores atores e atrizes de Hollywood, cada qual interpretando os principais protagonistas da tragédia, ou farsa, tupiniquim. Não Olhe Para Cima, de Adam McKay, 2021, Netflix.

Meryl Streep está perfeita no papel de um Bolsonaro de saia, com Johan Hill dando brilho ao papel de um Carluxo no comando do gabinete do ódio e o impagável, e possível candidato a Oscar, Mark Rylance, encarnando o Véio da Havan. Até a doutora Nise Yamaguchi aparece (des) governando a Nasa. O jornalismo chapa branca também está presente: Cate Blanchett e Tyler Perry dão luzes fantásticas aos holofotes dos sensacionalistas canais de televisão descompromissados com a verdade. E não há como não elogiar os super talentosos Leonardo DiCaprio e Jennifer Lawrence interpretando os "cientistas marxistas" Atila Iamarino e Natalia Pasternak. Até aquela Ema do Planalto que mordeu o Jair tem paralelo no filme, através de um utópico, ou distópico, Bronteroc.

Mas o filme é muito mais do que apenas simplificar os relativos papéis de cada personagem. Temos aqui muitas questões em debate na sociedade atual. O confronto de gênero se faz presente no contraste do cientista galã com a cientista louca. O aparelhamento militar no governo, com direito a deslizes de corrupção, também vem à tona. A tecnologia jobsiana está ali a nos vigiar. Os pequenos detalhes, como os quadros na Casa Branca, um de idolatria a Nixon, outro de apologia ao genocídio dos povos indígenas, dão todo um toque sutil de maldade política. Nem os plágios recorrentes de nossos ministros deixam de estar ausente em frases roubadas para uso da propaganda governamental. O otimismo burguês do dono da Bash, que procura mascarar a ganância capitalista e ignorar a vida, é outro detalhe que emerge a cada minuto. Temos inclusive o nepotismo, como o filho da presidente americana gerindo o temoroso mundo virtual das fake news de dentro do gabinete. E, claro, a gerência do balcão de negócios da burguesia é mais do que nítido, e prova quem realmente manda no sistema, isso tudo com seus porta-vozes midiáticos dando o tom pastel necessário pra amenizar o cinza.

Apesar de ser uma película bem humorada, aos poucos a sensação de tristeza toma conta no decorrer da fita, pois vamos notando que nossa realidade em tempos de fascismo e de pandemia é um pesadelo sem data pra acabar. Se o descrédito com ciência cada vez míngua mais, vale a esperança do spoiler feito pelo próprio filme, onde é dito a Bolsonaro que "você será comido por um Bronteroc". E, como bem sintetiza Jack Handey, "quero morrer dormindo em paz que nem meu avô, e não gritando aterrorizados como os passageiros dele". Ah, assista até o último segundo do filme, até terminar os créditos. Carluxo postou um storie.










quinta-feira, 18 de novembro de 2021

[cozinha solidária] QUEM TEM FOME TEM PRESSA

  

 




:: txt n phts :: Tiago Jucá ::

Hoje a escola de Aurora entregou mais de 110 quilos de alimentos para a Cozinha Solidária, projeto nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto que visa a produção e distribuição de marmitas para pessoas em condições de vulnerabilidade social.

Aurora tem oito anos e cursa o terceiro ano da Escola Projeto. Há algumas semanas, levei minha filha para conhecer a ocupação do Movimento, situada no bairro Azenha, em Porto Alegre, onde eram feitas e entregues mais de 100 refeições por dia. Naquele dia, Aurora viu dezenas de pessoas carentes se alimentando com as viandas servidas por pessoas engajadas em construir um país sem fome. 

Então, Aurora tomou a iniciativa de fazer um vídeo pelo celular e entrevistar um dos coordenadores do MTST-RS para mostrar em sala de aula. E, a partir disso, mobilizou toda a escola para arrecadar alimentos.




Que a iniciativa de Aurora e a mobilização de seus colegas e professores sirvam de exemplo para outras comunidades escolares. O Brasil tem fome, e quem tem fome tem pressa.








quarta-feira, 31 de março de 2021

[mandachuva] O CONSTANTE MEDO QUE NÓS HOMENS CAUSAMOS

 

:: txt :: Tiago Jucá ::
 
Era uma noite de frio. Dez horas. Eu voltava de uma entrega na Cidade Baixa e caminhava pela deserta avenida João Pessoa. Nenhuma alma perdida na rua. Nem a de Neto. Ao atravessar sobre a ponte da Azenha, vem em minha direção uma mulher. Nunca vi ninguém tão apavorado diante de minha presença. Ela ficou pálida. Seu nervosismo era aparente. Seu olhar congelou fitando os meus. Mas firme e forte, manteve a calma e passou por mim.
 
Naquela noite passei a perceber o medo que causo e que todos nós homens causamos. Eu não sabia o que fazer. Me senti constrangido de estar ali, naquela hora. Em poucos segundos, pensei em várias alternativas: atravessar a avenida, falar alguma coisa pra acalmar, sorrir. Pedir desculpa por cruzar por ela. Por existir. Nada disso. Meu silêncio foi o reflexo do medo daqueles olhos que se agigantavam a cada passo que nos aproximava.
 
Vivemos numa sociedade capitalista, na qual, entre várias barbáries resultantes desse modo de vida selvagem, está o machismo, assim como racismo e homofobia. E como não vivemos em bolha, a gente replica tudo isso, em diferentes graus, tendo consciência disso ou não. Há algum tempo procuro me conscientizar, saber mais, não repetir práticas machistas e ouvir as mulheres. Mulheres, e ninguém mais.
 
Não é fácil, pois está encarnado em nossa cultura sermos assim e conviver com outros que assim também são. Quando você acha que já sabe um pouco, escorrega logo ali adiante. Talvez eu escorregue daqui a pouco. Talvez este texto seja machista. O que posso fazer é continuar meu processo de desconstrução, cotidianamente. O último aprendizado foi não discutir se fiz ou falei algo machista. Se ela diz, é porque é. Na hora eu achei que não fui.
 
Eu já era pra ter escrito isto no dia das mulheres. Preferi ouvir os relatos, ler matérias, compartilhar links. E dia após dia, ao longo da semana, choviam notícias de abuso, violência, estupro, morte, agressão, covardia... e por aí vai. E a tarefa de escrever foi sendo adiada. Até me cobraram isso. Acabo fazendo justamente na data de um ano do assassinato da Marielle. Logo ela, uma mulher trabalhadora e oriunda da favela, metralhada pelos piores porcos que a política brasileira já elegeu pra ocupar cargos no executivo e legislativo, que "coincidentemente" eram acusados por ela de práticas machistas, racistas e homofóbicas através de seus agentes militares e milicianos dentro das comunidades da periferia carioca.
 
Não sei se parabenizo, se agradeço, se peço desculpas. Ou se faço tudo isso todos os dias. Ou se sigo em silêncio o caminho pra casa. Eu não queria tá no lugar daquela mulher naquela ponte naquela noite. E olha que ali nem era o lugar mais sinistro da cidade. Imagina quantos locais horríveis não tem por ae pelos quais mulheres passam e esperam o bus pra trabalhar. Todo santo dia. Ou nem precisa ser tão terrível assim, pode ser dentro da própria casa, onde acontecem a maioria dos crimes contra às mulheres.
 
E nós achando que esse papo de feminismo é mimimi...

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